DIA INTERNACIONAL DA MULHER
motumbá! axé! bolajoko!
Guilherme
um pensar na mulher brasileira negra
Várias vezes nos recolhemos para refletir as maneiras como nosso povo vem reconhecendo o rosto de Deus.
É o Deus da vida que se fortalece dentro de um contexto de morte, dentro de uma especificidade feminina negra.
Ele é como a mulher trançadeira que, enquanto trança os cabelos das meninas, mantém viva a cultura negra;
Ele é a mulher menstruada que sangra para renovar-se, renovar-se para gerar o novo;
Ele é a Mãe que pega nas mãos dos filhos e os ensina a caminhar sempre;
Ele é a Avó que doa seu tempo para recordar aos netos o nome do seu povo ao qual pertencem;
Ele é uma mulher grávida que deu a luz os mundos e toda humanidade;
Ele é uma menina faminta, violentada, escravizada;
Ele é uma jovem negra, guerreira e sensível às dores de parto, às dores do seu tempo.
O Deus da Vida é a Mãe dos nossos ancestrais, de nossos Orixás;
É Mãe dos injustiçados, de todos os que gritam vitimas da opressão;
É Mãe daquelas e daqueles que se doam pela justiça, pela igualdade, e por isso cremos que é também Mãe de Jesus Cristo.
Esta visão do Deus da Vida vem percorrendo silenciosamente os longos anos de sofrimento, resistindo ao genocídio negro,
à falsa libertação, à evangelização cristã católica distorcida.
Desta forma, nós Mulheres Negras, vivemos uma experiência comum de discriminação, de violação de nossos direitos, de
negação de nossa identidade, de rechaço e manipulação de nossa cultura, de demonização da religião de nossos antepassados.
Em especial neste que é o Dia/Mês Internacional da Mulher, esta história comum nos une, nos irmana, mulheres de diferentes
tradições religiosas. Queremos repensar a concepção de Deus que nos foi imposta, e descobrir juntas uma divindade que
tenha como lugar de revelação nosso povo, nossa cultura, a história de nossos ancestrais, história das mulheres... um Deus
que não nos traga o peso da culpa mas que seja presença, que festeje conosco o prazer, as alegrias, a felicidade e a beleza
da vida; uma divindade justiceira que nos fortaleça na busca de terra, casa e pão, na construção da sociedade de mesa farta
para todas e todos.
A fé no mesmo Deus, que se manifesta de maneiras diferentes, nos anima na construção de uma sociedade plural e participativa.
Este mesmo Deus, que luta em favor das(os) oprimidas(os) e se faz vitima; nos faz acreditar que a busca da dignidade e
cidadania do povo brasileiro, só será autentica se contemplar a dor e o grito das racialmente e sexualmente excluídas.
Guilherme
Recebemos este material o qual agradecemos