Na contramão das ruas, negros vão ao Planalto
elogiar Dilma
Da Redação, com informações das Agências
Brasília – Destoando do sentimento de cobrança aos Governos das recentes
manifestações de rua, a reunião do movimento negro com a Presidente Dilma
Rousseff na tarde desta sexta-feira no Palácio do Planalto acabou com elogios
“à sensibilidade da presidente” e cenas de bajulação explícitas.
"A impressão
que ficou é que novamente houve muito confete. Trata-se de mais uma agenda
partidária. O povo negro morrendo em uma guerra não declarada por ação dos
Estados e omissão da União, parece não interessar aos pretinhos que foram lá.
Assim como a titulação dos Territórios quilombolas e indígenas, não lhes
interessa, menos ainda à Dilma e ao PT. Saímos como entramos, com alguns
pretinhos achando uma maravilha a presidente tê-los recebido. Dilma continua
distante e enrolando o povo e os negros. Tem gente que faz questão de ser
enrolado", afirmou Reginaldo Bispo, coordenador nacional de organização do
Movimento Negro Unificado (MNU), após tomar conhecimento dos resultados do
encontro.
No entendimento de
Bispo, o encontro foi uma conversa do Governo com negros de partidos da sua
base de apoio, em especial, representados pela Coordenação de Entidades Negras
(CONEN) e pela UNEGRO (União de Negros pela Igualdade), respectivamente do PT e
do PC do B, em que não faltaram discursos genéricos e "cenas de bajulação
e deslumbramento". Líderanças mais críticas à gestão da ministra como
Gilberto Leal, dirigente da CONEN da Bahia, teria tido a presença vetada no
encontro.
Entre os 21 nomes convidados, apenas o Frei David Raimundo dos Santos,
diretor executivo da Rede Educafro, e José Vicente, reitor da Universidade
Zumbi dos Palmares, são independentes em relação aos partidos de apoio ao
Governo Federal.
Os demais – entre
os quais Ivanir dos Santos, Marcos Rezende e Flávio Jorge, Kika de Bessen -
tiveram o aval da ministra chefe da SEPPIR, Luiza Bairros. O critério para a
definição da maioria dos nomes foi pertencer ao Conselho Nacional de Promoção
da Igualdade Racial (CNPIR), que é órgão de assessoria da ministra. Lideranças
mais críticas à gestão de Bairros como Gilberto Leal, dirigente da CONEN da
Bahia, teria tido a presença vetada no encontro.
Palavras
A própria ministra
fez questão de dizer que um dos pontos mais importantes da reunião foi a reafirmação
do compromisso do Governo federal com ações para combater a discriminação
racial. “A presidenta reafirmou que as ações afirmativas e, mais
especificamente a das cotas, constituem um elemento central na luta pela
promoção da igualdade no Brasil”, disse a ministra.
Na mesma linha,
Valdeci Pedreira do Nascimento, do Instituto Odara da Mulher Negra, e Edson
França, coordenador geral da UNEGRO, exaltaram a sensibilidade da Presidente
para o Blog do Planalto. “O acolhimento da presidenta foi fundamental.
Positivo o movimento sentar, chegar num mínimo de unidade no sentido de
apresentar essas proposições, considerando inclusive a reforma política como
uma das ações estruturantes e de mudanças relevantes que devem acontecer no
nosso país, como também apresentar as avaliações positivas e apontar as
negativas e garantir desdobramentos num conjunto de ações que para nós são
prioritárias, e ouvir da presidente um compromisso dela em promover a igualdade
no país, com todos os desafios que tem”, afirmou.
Também para França
o encontro foi positivo. “Trabalhamos alguns eixos que consideramos
importantes, tendo como ponto focal a reforma política”, disse.
De acordo com
lideranças que acompanharam os preparativos da reunião, mesmo desgastada -
inclusive entre os negros do PT, que a acusam de falta de diálogo e
autoritarismo – Bairros teria recorrido ao apoio da ministra Maria do Rosário,
da Secretaria dos Direitos Humanos e do próprio Gilberto Carvalho, ministro
chefe da Secretaria Geral da Presidência. Resultado: acabou por definir a pauta
reduzida a questões genéricas, e retirar o protagonismo do movimento negro que
pretendia caminhar com as próprias pernas e levar uma pauta própria.
"Luiza Bairros é ministra do Governo. Não fala por nós, o movimento negro,
que somos um movimento social. Somos parte da sociedade civil", disse uma
dessas lideranças.
Versão do Frei
Frei David disse a Afropress
que travou um diálogo duro com a Presidente: ”A senhora até agora não
regulamentou a Lei das cotas. A senhora está com medo de que?“ teria dito o
frei, segundo o seu próprio relato. “Não estou com medo de nada. Sou
radicalmente a favor das cotas”, teria respondido Dilma.
Sempre segundo Frei
David, a presidente confessou que só foi saber da existência da questão racial
no Brasil quando fez a pós-graduação. “Só fui saber que vocês [negros] existiam
na pós-graduação. Passei o ensino fundamental e médio sem saber que vocês
existiam. Foi só aí que descobri vocês. Eu sou a favor da implementação dessa
Lei”, afirmou em resposta a reivindicação de alguns líderes sobre a não
implementação da Lei 10.639/2003.
Frei David disse
que cobrou da presidente a adoção das cotas no serviço público no prazo de 30
dias. “O ministro do Planejamento está contra. Porque a senhora permite?
"Frei podem fazer quantos pareceres contrários quiserem. Sou a favor”,
teria retrucado Dilma.
Além da presença da
ministra da SEPPIR, a reunião teve a participação dos ministros Aloisio Mercadante,
da Educação, e Gilberto Carvalho. O Frei disse que Mercadante elogiou a postura
propositiva das lideranças presentes. “A minha impressão é que o Governo estava
dormindo errando demais, apoiado por partidos sem seriedade, com partidos de
aluguel. A voz do povo nas ruas fez o Governo acordar”, anima-se o frei
Fonte - www.afropress.com
Fonte - www.afropress.com
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