'Irmãos' agolanos se
reencontram em SP após 29 anos
Membros da tribo Bakongo, os angolanos Tabasisa (dir.)
e Lutunguisa se reencontraram na capital paulista Foto: Ricardo Matsukawa/Terra |
"Escolhi voltar ao Brasil porque aqui a mistura de raças cria um ambiente
melhor para mostrar o meu trabalho", diz Tabasisa Foto: Ricardo Matsukawa/Terra |
Uma separação de quase 30 anos. Foi a marca deixada pela Guerra Civil
angolana em duas pessoas. O conflito de décadas provocou uma verdadeira
diáspora e transformou Angola em uma das principais origens de refugiados do
mundo. Para dois membros da tribo Bakongo - eles culturalmente se consideram
"irmãos" e veem o grupo como uma família -, significou o exílio e um
reencontro que aconteceria por acaso na capital paulista.
Membros da etnia Bantu, Tabasisa (nome artístico) e Lutunguisa Nguiovwani (que adotou o nome Victor) refugiaram-se no Zaire (hoje República Democrática do Congo) no ano de 1976, em pleno conflito. Patriota e saudoso do país natal, durante a década de 1980 Tabasisa abandonou a família para retornar a Angola, onde fundou uma companhia de canto e dança típicos. Enquanto isso, Lutunguisa aproveitava um convênio entre universidades para vir estudar em São Paulo.
A piora na patrulha política motivou Tabasisa a se refugiar no Brasil em 1992. O Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) não aceitava que o artista não manifestasse apoio a José Eduardo dos Santos em suas composições. "Queriam que o nome do presidente estivesse nas minhas músicas. Invadiram minha casa por isso. Não era agradável", conta Tabasisa em um português carregado de sotaque francófono originário da criação no Congo.
Neste meio tempo, Lutunguisa, hoje com 58 anos, casava-se com uma brasileira e formava-se em Estatística. Ganhava a vida no Brasil recém redemocratizado como professor de francês e matemática. Não tinha qualquer notícia dos irmãos Bakongo que abandonara no continente africano. "A guerra impedia qualquer possibilidade de termos uma informação de quem ficou", diz.
Partindo de Luanda ao Rio de Janeiro, Tabasisa começou uma odisseia. Conhecedor do direito internacional, o artista procurou o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) e foi orientado a seguir para Brasília, o que fez com parte dos US$ 200 (hoje R$ 400) que trouxe consigo no bolso. Na capital federal, obteve seus documentos de refugiado e foi encaminhado para a Cáritas Arquidiocesana de São Paulo, que mantém um programa de auxílio a imigrantes em condições semelhantes.
Na capital paulista, o artista que sempre teve casa precisou passar noites em um albergue onde refugiados de outros países dividiam o espaço com moradores de rua. O dia era gasto mendigando na praça da Sé, onde teve contato com o crack - ainda no começo da "epidemia" da droga. "Me ofereciam para eu ficar bem, mas eu olhava quem usa e dizia 'não quero isso pra mim'", conta.
Praticante da igreja Batista, Tabasisa passou a frequentar cultos. A grande virada em sua vida foi quando começou a fazer pinturas tribais para uma grande marca de refrigerantes. Fundou em seguida um grupo de percussão que leva o nome de sua tribo, morou na Bélgica e na Holanda em função de seu trabalho. "Escolhi voltar ao Brasil porque aqui a mistura de raças cria um ambiente melhor para mostrar o meu trabalho", diz.
O reencontro com o irmão aconteceu em 2004, durante um show do conjunto Bakongo no consulado da África do Sul. Uma amiga em comum levou Lutunguisa ao bebê que ele viu nascer e que, àquela época, já passava dos 40 anos. "Foi muito choro, muito abraço. Minhas pernas ficaram bambas e eu não acreditava", disse.
Hoje, as famílias retomaram o contato e Lutunguisa vai frequentemente à sala que o professor Bantu, como é conhecido Tabasisa, mantém no bairro da Liberdade. No lugar, o africano dá aulas de percussão, do idioma tribal e de culinária, além de vender seus quadros. Filha de Bantu, a pequena brasileira Micaela, 5 anos, brinca em um dos computadores da sala enquanto os adultos colocam as conversas em dia. No Brasil, eles encontraram um final feliz em meio a uma guerra que dizimou milhões de vidas.
Fonte - portal terra.com.br
Membros da etnia Bantu, Tabasisa (nome artístico) e Lutunguisa Nguiovwani (que adotou o nome Victor) refugiaram-se no Zaire (hoje República Democrática do Congo) no ano de 1976, em pleno conflito. Patriota e saudoso do país natal, durante a década de 1980 Tabasisa abandonou a família para retornar a Angola, onde fundou uma companhia de canto e dança típicos. Enquanto isso, Lutunguisa aproveitava um convênio entre universidades para vir estudar em São Paulo.
A piora na patrulha política motivou Tabasisa a se refugiar no Brasil em 1992. O Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) não aceitava que o artista não manifestasse apoio a José Eduardo dos Santos em suas composições. "Queriam que o nome do presidente estivesse nas minhas músicas. Invadiram minha casa por isso. Não era agradável", conta Tabasisa em um português carregado de sotaque francófono originário da criação no Congo.
Neste meio tempo, Lutunguisa, hoje com 58 anos, casava-se com uma brasileira e formava-se em Estatística. Ganhava a vida no Brasil recém redemocratizado como professor de francês e matemática. Não tinha qualquer notícia dos irmãos Bakongo que abandonara no continente africano. "A guerra impedia qualquer possibilidade de termos uma informação de quem ficou", diz.
Partindo de Luanda ao Rio de Janeiro, Tabasisa começou uma odisseia. Conhecedor do direito internacional, o artista procurou o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) e foi orientado a seguir para Brasília, o que fez com parte dos US$ 200 (hoje R$ 400) que trouxe consigo no bolso. Na capital federal, obteve seus documentos de refugiado e foi encaminhado para a Cáritas Arquidiocesana de São Paulo, que mantém um programa de auxílio a imigrantes em condições semelhantes.
Na capital paulista, o artista que sempre teve casa precisou passar noites em um albergue onde refugiados de outros países dividiam o espaço com moradores de rua. O dia era gasto mendigando na praça da Sé, onde teve contato com o crack - ainda no começo da "epidemia" da droga. "Me ofereciam para eu ficar bem, mas eu olhava quem usa e dizia 'não quero isso pra mim'", conta.
Praticante da igreja Batista, Tabasisa passou a frequentar cultos. A grande virada em sua vida foi quando começou a fazer pinturas tribais para uma grande marca de refrigerantes. Fundou em seguida um grupo de percussão que leva o nome de sua tribo, morou na Bélgica e na Holanda em função de seu trabalho. "Escolhi voltar ao Brasil porque aqui a mistura de raças cria um ambiente melhor para mostrar o meu trabalho", diz.
O reencontro com o irmão aconteceu em 2004, durante um show do conjunto Bakongo no consulado da África do Sul. Uma amiga em comum levou Lutunguisa ao bebê que ele viu nascer e que, àquela época, já passava dos 40 anos. "Foi muito choro, muito abraço. Minhas pernas ficaram bambas e eu não acreditava", disse.
Hoje, as famílias retomaram o contato e Lutunguisa vai frequentemente à sala que o professor Bantu, como é conhecido Tabasisa, mantém no bairro da Liberdade. No lugar, o africano dá aulas de percussão, do idioma tribal e de culinária, além de vender seus quadros. Filha de Bantu, a pequena brasileira Micaela, 5 anos, brinca em um dos computadores da sala enquanto os adultos colocam as conversas em dia. No Brasil, eles encontraram um final feliz em meio a uma guerra que dizimou milhões de vidas.
Fonte - portal terra.com.br
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