HISTÓRIA DE AFRICA
MANUAL PARA ESTUDANTES BRASILEIROS INCLUI A EVOLUÇAO DE
ANGOLA
* Simão Souindoula
O fato é assentado no livro da Leila Leite Hernandez,
intitulado “A Africa na sala de aula. Visita a Historia Contemporânea”, que
acaba de ser republicado, em São Paulo, na sua segunda remessa, nas edições
Selo Negro.
A autora recorda, naturalmente, sobre o Quadrilátero, o seu desenvolvimento
proto-histórico, escravagista e colonial, e
propõe, em ultimo tratamento do tema do seu trabalho, a sua visão do período
pós-independência do pais.
Selada num
consistente bloco que se estala em 674 páginas, esta publicação e repartida
numa quinzena de capítulos, na qual a antiga Professora da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, analisa, entre outras circunstâncias, a
repartição cartográfica do continente niger
em Berlim, nos cruciais meados do seculo XIX, a gradual instalação do sistema
colonial, com as suas variantes, as suicidárias tentativas de políticas de
assimilação ou de indigenizacao e os inevitáveis movimentos de resistência
politica, social e cultural.
A memorialista
paulistana aborda toda esta evolução no contexto marcado pela dinâmica do
perspicaz pan-africanismo, os efeitos irreversíveis das duas Grandes Guerras na
formulação das revindicações autonomistas, os diferentes processos de obtenção
das liberdades e a teia do tenebroso apartheid.
Fixa a síntese
sobre Angola no contexto da obstinada consolidação do Ultracolonialismo
português, que foi favorecida pelo contínuo enfraquecimento das formações
politicas que formam, hoje, Angola.
Nota, para o
efeito, a severa derrota de Ambuila, em outubro de 1665, que destabilizou,
definitivamente, a Federação. A investigadora da Universidade de São Paulo
comprova que tropas brasileiras contribuíram no desastre kongo.
Aponta,
igualmente, o desregrado tráfico de escravos que, segundo ele, envolveu, só no
ano de 1530, cerca de 4000 cativos de Pinda e Angola.
Os muleques resistiram a neoescravidão que
sucedeu, nitidamente, na segunda metade do seculo XIX, ao terror escravagista.
Serão, então,
registados, centenas de revoltas como, por exemplo, no Bailundo, em 1902,
contra o trabalho forcado, a oposição liderada por Tulante Buta contra a
exportação de contratados para São Tome, de 1913 a 1917; e a revolta do Amboim,
em 1917, quando os Seles e os Bailundos rebelaram-se contra a expropriação das
suas terras e o trabalho obrigatório.
A especialista
brasileira assinala outras rebeliões, as ocorridas no Huambo, Congo, Humbe, nos
Ovambo e nos Dembos.
DOS JORNAIS AS ARMAS
Esta atitude geral
de contraposição anticolonial teve a sua declinação, inteligente, nos meios
urbanos com a criação de associações, ligas e grémios, assim como, o lançamento
de vários periódicos.
E, este contexto
que dará origem a dezenas estruturas politicas, independentistas, clandestinas,
quase todas, logicamente, de esquerda.
Essas
organizações provocarão a previsível Grande Revolta Autonomista, tríptico,
ocorrida no setentrião angolano, no oportuno primeiro trimestre de 1961.
Esta servira de
forte alicerce moral ao nacionalismo angolano no seu progresso político,
diplomático e militar, assim como, nas suas tentativas de convergência, que
desembocara na independência do pais e na sua inabalável luta contra os neo
Códigos Negros, na Azania. Há uma dezena de anos, a alforria arrancada,
heroicamente, foi consolidada.
A pedagoga
sul-americana inclui, na sua obra, em anexos, vários documentos como mapas
indicativos das resistências dos Hereros e Ovambos, no início do seculo XX.
Utilizou um
conjunto de fontes bibliográficas, impressionante, dentre das quais podemos
assinalar, “A campanha de cuamatos”
de David Martins Lima, publicado em 1908, “Angola”
por Kwame Nkrumah, no crucial ano de 1962, “Estórias
de contratados” de Costa Andrade, “Dos
jornais as armas: trajetórias da
contestação angolana” do afro-baiano Marcelo Bittencourt.
A obra, “A Africa na sala de aula. Visita a Historia
Contemporânea”, que da um previsível relevo a Angola, confirma a
consistência histórica das múltiplas relações, seculares, mantidas entre os dois
territórios, quase paralelos do Atlântico sul.
* Simão Souindoula |
E, o animador
episódio deste relacionamento, na história recente, foi o valente
reconhecimento, primus inter …, da
emancipação do Quadrilátero pelo Itamaraty.
* Membro do Comitê Cientifico
Internacional, Projeto da UNESCO «A Rota do
Escravo», colaborador permanente do BUREAU POLCOMUNE e da BRASIL ANGOLA
Magazine.
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