A Presidente Dilma Roussef acaba de voltar da Etiópia, onde assistiu,
como convidada, à Cúpula Presidencial do 50ª Aniversário da União Africana. Lá,
além de reiterar os laços culturais e econômicos que nos ligam àquela região,
ela anunciou, também, a eliminação de antigas dívidas de 12 países africanos
com o Brasil, no valor de 980 milhões de dólares.
Aqui, muita gente ficou sem entender o gesto, assim como muitos ainda
desconhecem as razões que justificam a nossa política africana. A aproximação
estratégica do Brasil com a África, como um todo, vem desde o regime militar.
Nos anos 1970 e 1980, era para a África e o Oriente Médio que iam milhares de
brasileiros, para forjar seu futuro, trabalhando para empresas como a Mendes
Júnior no Iraque e a Mauritânia, entre outros países. Para lá exportávamos,
antes da destruição da indústria bélica brasileira, tanques da Engesa e da
Bernardini, mísseis da Avibrás e armas portáteis.
A nossa relação com os países de língua portuguesa é mais antiga. Houve
anos,antes da independência, em que entravam no porto de Luanda mais navios
saídos do Rio de Janeiro do que de Lisboa. Em plena ditadura, o Brasil foi o
primeiro país a reconhecer a independência de Angola.
Na África, não está apenas o passado de milhões de brasileiros, nos
antepassados que dali vieram, mas também o seu futuro. Não se trata apenas da
presença, naquele continente, de técnicos da Petrobras, e de construtoras e
mineradoras, ali presentes.
Sendo a África Ocidental, do ponto de vista climático e geológico, um
território gêmeo do brasileiro, é a única região do mundo que oferece ao Brasil
a possibilidade de aplicar e demonstrar o que há de melhor em nosso modelo de
desenvolvimento econômico e social.
Nos nossos cultivares de cana, na produção de açúcar e álcool, na soja
resistente à seca, no gado tropical para a produção de carne e leite, nos
nossos programas de agricultura familiar, estão soluções que podem levar à
ocupação produtiva de milhões de hectares de cerrado naquele continente. Não só
na economia, mas, também, na política social – como no Brasil – é possível o
combate às endemias e epidemias, a eliminação da fome e o fim da pobreza
absoluta. Esse projeto de cooperação Sul-Sul, poderá ser grande e solidária
ação internacional com povos irmãos na História e na geografia.
Os países africanos foram decisivos para a vitória brasileira na votação
da OMC, e sabem que o Brasil não tem, para com eles, a mesma visão colonialista
da Europa e dos Estados Unidos.
No Brasil há a consciência histórica de que é
prioritário, para estabelecer área de paz e prosperidade no Atlântico Sul,
tratar, de igual para igual, nossos vizinhos e irmãos do continente e os que
habitam o outro lado do oceano.
* Escritor, Ícone do jornalismo brasileiro,
Colunista da TRIBUNA DA IMPRENSA Online
Apenas uma informação, em benefícios dos leitores do BrasilAngola magazine, a Tribuna de Imprenbsa, como muitos outros sites, reproduz regularmente os textos do mauro santayana, de forma livre, mas o texto foi originalmente publicado no blog do mauro santayana, onde se podem ler outros textos dele sobre Brasil e a África, como "a emergência africana", no seguinte endereço: www.maurosantayana.com
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