quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

HOMENAGEM póstuma


Ao Deputado José Cândido,
Diríamos se tivéssemos esta posse, que Sua Excelência nos deixou em hora errada. Porém, quem somos nós para questionarmos as Sagradas Determinações de nossos Pais Sagrados, onde Olorum é o Eterno Dono e Olodumaré Teu Guardião. Nas Tuas Sagradas Benções, nós cremos que possamos lamentar o ocorrido e mais esta perda.
Conhecemo-nos pouco. Apenas uns poucos anos... Porém, o suficiente para conhecer melhor os teus propósitos. Era um homem do povo, portanto lutou pelo povo.
Todavia, o que nos levou a escolhê-lo quando da necessidade, porquanto, nós tivemos que nos aproximar. O que nos chamava a atenção era que Sua Excelência era o único deputado preto da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Negros! Tinham algum! Porém, pretos? Apenas Sua Excelência. O que, aliás, não é de se “reparar” num país onde mais da metade é negra, segundo o movimento negro nacional, e, no entanto nós não termos uma representação assim mais visível e evidente. E, porquanto, causa dúvidas!
Sua vida particular a nós militante pouco interessa.Desde que ela não venha pesar mais na nossa. E nem isso tende a impedir-nos de prestar a referida e obrigatória homenagem. Quando Sua Excelência foi contatada a respeito do nosso propósito de memorial, o Projeto Phoenix – Memorial da Escravatura Negra nas Américas, não titubeou. Apresentou de peremptório o apoio e anuência ao projeto. O tempo não nos deixou concluir juntos...
Não propomos que seja pouco, temos a certeza de que seria muito mais. Nós sabemos que caminharíamos muito com Sua Excelência em busca de nossa jornada de uma identidade, de nossa cultura, de nossa ancestralidade. O museu proposto tem esta finalidade. O de dizermos a nós mesmo quem somos e para que viessem.
Já perdemos vários irmãos – agora depois de mortos talvez não se importem em serem assim chamados – nesta nossa luta contemporânea. Não cronologicamente sendo posta nesta ordem: Abdias do Nascimento; Solano Trindade; Mestre Pastinha e Mestre Bimba; Odacir Matos; Hamilton Cardoso; Felipe “Doido” da UNEGRO, Professor Nelson Santos; Grande Otelo; Henricão; Pixinguinha; Wilson Simonal; e tantos outros que ora sejam imemoráveis. A todos eles somos gratos, por tuas contribuições na procura de soluções para a nossa raça, claro, aos teus modos.
Queremos dizer a Sua Excelência que o memorial não é apenas um sonho. É uma necessidade. A necessidade de um povo conhecer o seu passado, e desta forma determinar e trilhar o caminho do próprio futuro, no presente. Que todos têm o direito, consequentemente também nós. E se tivermos haveremos de conquista-lo. Sua excelência deu o pontapé inicial. Este projeto já não é mais nosso. É teu.
São Paulo, 16 de fevereiro de 2012.
Ogã Neninho de Obálúwayié
Coordenador do CRENJA

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